15 January, 2006

E Paulo Freire tinha razão...

Jarbas Novelino Barato do blog Aprendente chama a atenção para a entrevista de Mike Rose publicada no portal do Senac sobre as dimensões cognitivas do aprender a trabalhar e os saberes invisíveis construídos pelos trabalhadores.

Reproduzo aqui três trechos bem interessantes.

  • As ferramentas (e muitos tipos de instrumentos e artefatos) são essenciais para construir conhecimentos e aprender coisas novas. Isso é verdade tanto numa oficina de carpintaria quanto num laboratório de física. Ao usar o martelo, um carpinteiro aprende coisas como qualidades dos materiais, princípios de força e movimento, mecânica do corpo. Essa inter-relação entre ferramenta e conhecimento é básica para algumas teorias sociais e psicológicas, tais como as de Marx e Vygotsky. O que me interessa é que, mesmo quando aceitamos essa relação no nível teórico, podemos não enxergar como a conexão entre ferramenta e conhecimento acontece na prática, no dia-a-dia. Por isso temos dificuldade para reconhecer, voltando ao meu exemplo, a inteligência do trabalho em usos fluentes de um martelo.

  • No Ocidente, desde Aristóteles, vivemos uma longa tradição cultural que faz distinções dicotômicas entre conhecimento puro e aplicado, teoria e prática, educação acadêmica e profissional, cérebro e mão. Mas quando você se aproxima do trabalho – o trabalho de um cabeleireiro ou de um cirurgião – essas distinções começam a perder sentido. Existem muitos momentos de pensamento abstrato, envolvendo conceitos e resolução de problemas, no trabalho de um bom cabeleireiro. Perguntei a um profissional da área o que ele faz quando uma pessoa aparece com um corte ou uma coloração malfeita por outro cabeleireiro. “A primeira coisa que você tem que fazer”, ele disse, “é descobrir onde o outro profissional estava tentando chegar”. Considere todo o conhecimento e o pensamento hipotético que entram em ação nesse caso.

  • Já sabemos que em bons programas de educação profissional os alunos desenvolvem perspicácia na percepção, descobrem as capacidades e limitações das ferramentas, melhoram suas habilidades para planejar e priorizar tarefas, resolver problemas rotineiros e eventuais, usar e comunicar uma variedade de símbolos, inclusive símbolos matemáticos. Servem-se da matemática para fundamentar seu planejamento e a resolução de problemas, e da leitura e da escrita para auxiliar a aprendizagem e a execução de tarefas. Aprendem a se comunicar e a trabalhar cooperativamente. Refletem sobre suas próprias ações para evitar prejuízos e erros. Desenvolvem valores estéticos e profissionais. Nossa missão como educadores é colocar em primeiro plano a dimensão cognitiva do trabalho. E realizar um grande esforço para influenciar políticas públicas e promover discussões sobre a inteligência e o conhecimento dos trabalhadores.





1 comment:

Jarbas said...

Cara Salete,

Obrigado pela visita ao Aprendente. Apareça de vez em quando. Falar em blogs, o seu é muito bom. Vou colocá-lo entre os meus favoritos produzidos por edublogueiros, e recomendá-lo para meus alunos.
A entrevista do Rose é só uma amostra de um trabalho que merece ser conhecido. Estou em campanha para que alguma editora traduza o livro dele para o português. Se você quiser ajudar nessa campanha, agradeço. Para contato use um destes dois e-mails: jarbas@utopia.com.br ou jarbas@sdsualumni.org

Grande abraço,

Jarbas