13 February, 2006

Poder do Google: de arrepiar

Com o título de “O poder de apagar a BMW”, o caderno Link do Estadão de segunda, 13/2/06, traz uma notícia de arrepiar. Ela nos permite vislumbrar aquilo que sabíamos (e teimávamos em não lembrar) e temíamos: a manipulação de informação (no caso, pela omissão) de modo expresso, indisfarçado pelos gigantes da internet.
O Google decidiu “punir” a BMW e retirou (pelo menos momentaneamente) referências àquela companhia.
Em um mundo em que cada vez mais dependemos dos mecanismos de busca para encontrar alguma informação na net, senti-me transportada ao ambiente do livro de George Orwell, 1984, e “vi” Winston Smith, personagem principal do livro, alterando notícias ao sabor do Partido. Gelei.

Não vejo solução. O texto do Estadão fala em concorrência a altura do Google. Bobagem. Sempre estaremos nas mãos de alguns para sermos municiados com informações.

Se alguém tiver alguma idéia para essa arapuca, compartilhe-a aqui conosco.
Como o texto do Estadão só está acessível aos assinantes, publico aqui, na íntegra, o artigo:
O poder de apagar a BMW
O Google retirou de seu cadastro o site alemão da BMW. Até há pouco mais de uma semana, quem digitasse as três letras na tela receberia primeiro bmw.de/ como resposta e, só depois, o site internacional, em inglês, da fabricante de automóveis. Não mais. Agora, é como se o site original jamais tivesse existido.
O problema é que os alemães trapacearam. Todo mundo que está na rede a sério procura uma maneira de aparecer melhor no Google - é natural. Existem várias técnicas.
Como o buscador valoriza mais o texto que está acima e nas colunas à esquerda, muitos webdesigners procuram concentrar títulos, linhas explicativas, até menus em alguns casos, logo de cara, nas regiões certas da página.
Se as palavras usadas nos pontos certos forem essenciais, aquelas que usuários costumam buscar, o site poderá ser encontrado com mais facilidade.
Outros designers lançam mão de artimanhas. A mais simples é instalar páginas que redirecionam. Não é complicado: quem cai numa página específica não a vê, ela simplesmente reencaminha o freguês para outra página. Às vezes, você nem percebe que foi parar num site no outro lado do mundo. O artifício foi criado para quem mudou de endereço na web. Onde ficava o site antigo, durante um tempo põe-se um redirecionador.
Espertos como são, os designers da BMW criaram páginas redirecionadoras entulhadas de texto. Cheias de expressões como "carros usados", bons adjetivos, o tipo de coisa que alguém pode digitar no Google quando estiver buscando comprar um carro. O robô do Google, o sistema usado para catalogar os endereços, então sai vasculhando a web. Diferentemente de um browser - seja Explorer, seja Firefox - que nós usamos, o robô não é redirecionado. Ele lê apenas o que está ali. E é aquilo que ele registra como sendo o conteúdo da página.
O pobre do alemão que estivesse em busca de um carro usado terminava sendo obrigado a considerar, antes, uma BMW nova. Nada de grave, talvez. Afinal eles ganham em euros e, no país das autobahns, os impostos para automóvel não são altos à brasileira. Ainda assim é trapaça: um jeito de convencer o robô de que o conteúdo de uma página é um quando o que o sujeito vê é outro.
Então o Google limou com a BMW da rede. Se você não está no Google, para um bom número de pessoas, você não existe. Quando o site da empresa estiver limpo das páginas de trapaças, ele volta. Mas volta num ranking 0. Este Page rank do Google é um de seus maiores segredos. Ninguém sabe ao certo quais os critérios, mas quanto maior a nota de um site, mais acima ele aparece na lista de resultados.
O Google pode fazer isto: banir uma das principais montadoras de automóveis do mundo e, quando decidir recadastrá-la, encaixá-la ali no piso da web, onde o interesse é quase nulo, entre os blogs de adolescentes de 13 anos e minha página pessoal de fotos familiares. E, convenhamos, nada mais do que justo. A BMW estava mentindo. Dizia que seus clientes encontrariam uma coisa quando, na verdade, queriam empurrar outra.
Mas há um problema aí: é poder demais. Se um sistema de buscas é incrivelmente superior a todos os outros, ele controla a web. É ele quem decide o que será apresentado e o que não será. Embora na rede não exista censura de forma alguma, ser banido do Google é, essencialmente, uma forma atordoante de censura.
O que não quer dizer que a trupe do Google esteja errada. A BMW deu uma de esperta, achou que podia driblar o sistema para aparecer melhor. Só que o que o Google oferece de bom é resposta de qualidade para a pergunta feita. Este drible interessa à BMW, não às pobres almas que recorrem a um site de buscas à procura de respostas precisas.
A única solução, e a web carece dela já faz algum tempo, é mais sistemas de busca. Se tiver que ser da Microsoft, que seja. Mas idealmente viria de um novo Google, de uma nova dupla de gênios surgidos dos corredores da Universidade de Stanford - ou, desta vez, do outro lado dos EUA, do MIT. Quem sabe da Europa.
A web, este incrível amontoado de informação cada vez mais sofisticada, só é útil com bons sistemas de busca. Mas só será democrática quando o Google tiver concorrentes à altura. Não importa se, hoje, a empresa pareça agir com bom coração. Ela já mostrou que, quando um governo pede, ela censura. Foi assim que teve início sua relação com a China.
A questão não é se eles usariam seu poder sobre a rede para selecionar o que os usuários vêem com critérios que vão além da qualidade. Isso já fazem. A questão é, apenas, se é só para os chineses que fazem ou se o serviço está à venda também para outros governos.
O Estado de S. Paulo, 13/02/2006

03 February, 2006

Novo livro sobre Mídias Digitais

É uma coletânea de 13 ensaios sobre comunicação. Recebi a notícia via blog Intermezzo que remete ao texto de João Carlos Pinheiro da Fonseca publicado no Telebrasil .

De acordo com o J.C. Pinheiro da Fonseca:

A coletânea de ensaios “Mídias Digitais” enfoca o tema da comunicação decomposto, sob o prisma da transdisciplinaridade, nas cores do social, da tecnologia, da economia, da política, da educação e da cultura. O livro em questão reflete a mudança histórica que ocorre – ou está prestes a ocorrer – no mundo da comunicação, envolvendo atores como produtores, consumidores e distribuidores da informação. A flexibilidade da tecnologia eletrônica digital, testemunhada pelo fenômeno da rápida penetração global da Internet (a interligação mundial das redes), é o agente subjacente a esta mudança.

A coletânea, em especial, faz uma reflexão coletiva das conseqüências que esta mudança terá sobre o Brasil, tal como percebida pela sensibilidade dos autores, membros do nosso mundo acadêmico – em sua grande maioria de origem estatal –, estimulada possivelmente por iniciativas governamentais, tais como tevê digital (estudada desde 1994 pela Abert/SET), instituição do SBTVD (Decreto nº 4.901/2003), fechamento da brecha digital e educação à distância.

J.C. Pinheiro da Fonseca elabora extenso texto sobre o livro, inclusive com resumo dos capítulos e currículo dos autores.

Mídias Digitais – Ficha Técnica
Título: Mídias Digitais
Editora: Paulinas – editora@paulinas.org.br
Autores: Diversos (21 autores contribuintes)
Organizadores: André Barbosa Filho e outros
Páginas: 368
Classificação: ISBN 85.356-1573-3
Catalogação: CDD - 302.230285
Índice Sistemático: Mídias Digitais: Comunicaçã Sociologia Coleção
Comunicação-Estudos
Edição: março 2005
Copyright : Pia Sociedade Filhas de São Paulo